sábado, 11 de fevereiro de 2017

A Caminho da Luz - XXI - Época de Transição

A Caminho da Luz
Francisco Cândido Xavier
História da Civilização à Luz do Espiritismo
Ditada pelo Espirito
EMMANUEL

XXI
ÉPOCA DE TRANSIÇÃO

As lutas da Reforma. - A Invencível Armada. - Guerras 
religiosas. - A França e a Inglaterra. - Refúgio da América. - 
Os Enciclopedistas. - A Independência americana.

AS LUTAS DA REFORMA

Debalde a Dieta de Worms, em 1521, condenara Lutero como herege, levando-o a refugiar-se em Wartburgo, porque as suas idéias libertárias acenderam uma nova luz, propagando-se com a rapidez de um incêndio.
A Igreja começou a sofrer os golpes mais fortes e mais dolorosos, porque alguns príncipes ambiciosos se aproveitaram do movimento das massas, confiscando-lhe bens preciosos. Numerosos camponeses, empolgados pelos direitos do pensamento livre, iniciaram grande campanha contra a Igreja usurpadora, exigindo reformas agrárias e sociais, em nome do Evangelho.
De 1521 a 1555, os centros cultos europeus viveram momentos de angustiosas expectativas nos bastidores da tragédia religiosa, mas, depois da Concordata de Augsburgo, instituiu-se um regime da mais larga tolerância recíproca.
O direito do exame livre, porém, dividiu a Reforma em vários departamentos religiosos, de acordo com a orientação pessoal de seus pregadores, ou das conveniências políticas do meio em que viviam. Na Alemanha era o Protestantismo, com os partidários dos princípios de Martinho Lutero; na Suíça e na França era o Calvinismo e, na Escócia, a Igreja Presbiteriana. Na Inglaterra, a questão veio a tornar-se mais grave. Henrique VIII, defensor extremado da fé católica, a princípio, por conveniência de caprichos pessoais tornou-se o chefe do poder político, assumindo a direção da Igreja Anglicana. Na França, os huguenotes se encontravam muito bem organizados, mas surgem as complicações de
natureza política, e o gênio despótico de Catarina de Médicis ordena a matança de São Bartolomeu, no intuito de eliminar o almirante Coligny. O movimento sinistro, que durou 48 horas, começou em 24 de agosto de 1572, sofrendo a "Reforma" um dos seus mais amargos reveses. Somente em Paris e subúrbios, foram eliminadas três mil pessoas.
Os mensageiros do Cristo deploram tão dolorosos acontecimentos, trabalhando por despertar a consciência geral, arrancando-a daquela alucinação de morticínio e sangue, mas precisamos considerar que cada homem, como cada coletividade, pode cumprir seus deveres ou agravar suas responsabilidades próprias, na esfera de sua liberdade relativa.

A INVENCÍVEL ARMADA

As lutas na Europa, em todo o século XVI, longe de colimar um fim, dilatavam-se em guerras tenebrosas, mergulhando os povos do Velho Mundo num terrível círculo vicioso de reencarnações e resgates dolorosos.
Como se não bastassem as guerras religiosas, que trabalhavam o organismo europeu desde muitos anos, surge a figura de um príncipe fanático e cruel, na poderosa Espanha de então, complicando a existência política das coletividades européias. As lutas de Filipe II, sucessor de Carlos V, prendiam-se, de algum modo, aos problemas da Reforma protestante; mas, acima de tudo, colocava ele a sua ambição e o seu despotismo. Animado com as vitórias sobre os turcos e os muçulmanos, procurou reprimir a liberdade política dos Países Baixos, encontrando a mais heróica resistência. Suas atividades maléficas, mascaradas com a defesa do Catolicismo, espalhavam-se por toda a parte, obrigando o plano espiritual a coibir-lhe os imensuráveis abusos do poder. Foi assim que, havendo organizado a Invencível Armada, no ano de 1588, composta de mais de uma centena de navios equipados com 2.000 canhões e 35.000 homens, a fim de atacar a Inglaterra sem motivo que justificasse semelhante agressão, viu essa poderosa esquadra destruída totalmente por uma tempestade aniquiladora. De conformidade com as providências do plano invisível, apenas aportaram às costas inglesas os espíritos pacíficos, compelidos pela força a participarem da armada destruída, e que foram lá recebidos generosamente, encontrando uma nova pátria.
Se Henrique VIII havia errado como homem, o povo inglês estava preparado para o cumprimento de uma grande missão, e ao mundo espiritual competia trabalhar pela preservação dos seus patrimônios de liberdade política.

GUERRAS RELIGIOSAS

A Europa, não obstante o amparo e a assistência dos abnegados mensageiros do Cristo, transportou-se ao século XVII no meio de lutas espantosas, agora agravadas com as tenebrosas criações do Tribunal da Penitência. Quase se pode afirmar que os únicos jesuítas dignos do nome de sacerdotes de Jesus foram aqueles que vieram para as regiões desconhecidas da América, no cumprimento dos mais nobres deveres de fraternidade humana, porque a quase totalidade da Companhia, no Velho Mundo, mergulhou num oceano de tricas políticas, muitas vezes rematadas em tragédias criminosas. 
As guerras de natureza religiosa estavam longe de terminar, dada a rebeldia de todos os elementos, e foi com penosos esforços que os emissários do Alto conduziram as coletividades européias ao Tratado de Westphalia, em 1648, consolidando as vitórias do protestantismo, em face das imposições injustificáveis do jesuitismo. 

A FRANÇA E A INGLATERRA

A esse tempo, a França já se encontrava preparada para o cumprimento da sua grande missão junto dos povos, e, sob a influência do plano invisível, criavam-se os serviços benéficos da diplomacia. Nos bastidores da sua política administrativa, firmavam-se os princípios do absolutismo no trono, mas a sua grande alma coletiva, cheia de sentimento e generosidade, já vislumbrava o precioso esforço que lhe competia no porvir. Ao seu lado, a Grã-Bretanha caminhava, a passos largos, para as mais nobres conquistas humanas. Extinta, em 1603, a dinastia dos Túdores, eleva-se ao trono o rei da Escócia, Jaime I. Desejando reviver os princípios absolutistas, o descendente dos Stuarts inaugurou um período de nefastas perseguições, o qual foi intensificado por seu filho Carlos I, cujas disposições políticas se constituíam das mais avançadas tendências para a tirania. Rompendo com o Parlamento e
dissolvendo-o, vezes consecutivas, viu o povo da capital inglesa de armas na mão, em defesa dos seus representantes, ensejando uma guerra civil que durou vários anos e só terminada com a ação de Cromwell, que, de acordo com o Parlamento, estabelece a República da qual se torna o "Lorde Protetor". Cromwell era um espírito valoroso, mas, embriagado com o vinho sinistro do despotismo, foi também um ditador vingativo, fanático e cruel. Depois da sua morte, em face da incapacidade política do filho, verifica-se a restauração do trono com os Stuarts. O governo destes teria, porém, pouca duração, porque os ingleses, desgostosos com a administração de Jaime II, e no seu tradicional amor à liberdade, chamam Guilherme de Orange ao poder. O Parlamento redige a famosa declaração
de direitos, definindo a emancipação do povo e limitando os poderes reais, elevando-se ao trono Guilherme III com a revolução de 1688. A Inglaterra havia cumprido um dos seus mais nobres deveres, consolidando as fórmulas do parlamentarismo, porque assim todas as classes eram chamadas à cooperação e fiscalização dos governos.

REFÚGIO DA AMÉRICA

Considerando o movimento das responsabilidades gerais e isoladas, o plano invisível, sob a orientação de Jesus, conduzia para a América todos os Espíritos sinceros e trabalhadores, que não necessitassem de reencarnações ao mundo europeu, onde indivíduos e coletividades se prendiam, cada vez mais, na cadeia das existências de provações expiatórias.
Para o hemisfério do Novo Mundo afluíam todas as entidades conclamadas à organização do progresso futuro. Muitas dessas personalidades haviam adquirido o senso da fraternidade e da paz, depois de muitas lutas no antigo continente. Exaustas de procurar a felicidade nos limites estreitos dos sentimentos exclusivistas, sentiam no íntimo as generosas florações de reformas edificantes, compreendendo a verdadeira solidariedade, na comunidade universal. Foi por essa razão que, desde os seus primórdios, as organizações políticas do continente americano se tornaram, baluartes de paz e de fraternidade para o orbe inteiro. É que a permanência no seu solo e nas luzes ocultas do seu clima social era considerada por todos os Espíritos como uma bênção de Deus, em face das sucessivas inquietações européias.

OS ENCICLOPEDISTAS

O século XVIII iniciou-se entre lutas igualmente renovadoras, mas elevados Espíritos da Filosofia e da Ciência, reencarnados particularmente na França, iam combater os erros da sociedade e da política, fazendo soçobrar os princípios do direito divino, em nome do qual se cometiam todas as barbaridades.
Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos veneráveis de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, D'Alembert, Diderot, Quesnay. Suas lições generosas repercutem na América do Norte, como em todo o mundo. Entre cintilações do sentimento e do gênio, foram eles os instrumentos ativos do mundo espiritual, para regeneração das coletividades terrestres. Historiadores há que, numa característica mania de sensacionalismo, não se pejam de vir a público asseverar que esses espíritos estudiosos e sábios se encontravam a soldo de Catarina II da Rússia, e dos príncipes da Prússia, contra a integridade da França; mas, semelhantes afirmativas representam injúrias caluniosas que apenas afetam os que as proferem, porque foi dos sacrifícios desses corações generosos que se fez a fagulha divina do pensamento e da liberdade, substância de todas as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos.

A INDEPENDÊNCIA AMERICANA

As idéias nobilitantes dos autores da Enciclopédia e das novas teorias sociais haviam encontrado o mais franco acolhimento nas colônias inglesas da América do Norte, organizadas e educadas no espírito de liberdade da pátria do parlamentarismo.
O mundo invisível aproveita, desse modo, a grande oportunidade, deliberando executar nas terras novas os grandes princípios democráticos pregados pelos filósofos e pensadores do século XVIII. E enquanto a Inglaterra desrespeita, para com as suas colônias, o grande princípio por ela própria firmado, de que ''ninguém deve pagar contribuições sem as ter votado", os americanos resolvem proclamar a sua independência política. Depois de alguns incidentes com a metrópole, celebram a sua
emancipação em 4 de julho de 1776, organizando-se, posteriormente, a Constituição de Filadélfia, modelo dos códigos democráticos do porvir.

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