quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A Caminho da Luz - XVI - A Igreja e a Invasão dos Bárbaros

A Caminho da Luz
Francisco Cândido Xavier
História da Civilização à Luz do Espiritismo
Ditada pelo Espirito
EMMANUEL

XVI
A IGREJA E A INVASÃO DOS BÁRBAROS

Vitórias do Cristianismo. - Primórdios do Catolicismo. - A Igreja de Roma. - A destruição do Império. - A invasão dos bárbaros. - Razões da Idade Média. - Mestres do amor e da virtude.

VITÓRIAS DO CRISTIANISMO

Constantino, no seu caminho de realizações, consegue levar a efeito a nova organização administrativa do Império, começada no governo de Diocleciano, dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente, da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em dioceses dirigidas respectivamente por prefeitos e vigários.
Com a influência do vencedor da ponte Mílvius, efetua-se o Concílio Ecumênico de Nicéia para combater o cisma de Ário, padre de Alexandria, que negara a divindade do Cristo.
Os primeiros dogmas católicos saem, com força de lei, desse parlamento eclesiástico de 325.
Findo o reinado de Constantino, aparecem os seus filhos, que lhe não seguem as tradições. Em seguida, Juliano, sobrinho do imperador, eleva-se ao poder tentando restaurar os deuses antigos, em detrimento da doutrina cristã, embora compreendesse a ineficácia do seu tentâmen.
Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É então que todos os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado, pelo advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no campo do martírio e do sacrifício, vendo-se o imperador, em 390, ajoelhar-se humildemente aos pés de Ambrósio, bispo de Milão, a penitenciar-se das crueldades com que reprimira a revolta dos tessalonicenses.

PRIMÓRDIOS DO CATOLICISMO

O Cristianismo, porém, já não aparecia com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando a madeira tosca, da
época gloriosa das virtudes apostólicas.
Seus concílios, como os de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, não eram assembléias que imitassem as reuniões plácidas e humildes da Galiléia. A união com o Estado era motivo para grandes
espetáculos de riqueza e vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos dAquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida.
As autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhe suas idéias e suas concepções, e, longe de educarem a alma das massas na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações transcendentes.

A IGREJA DE ROMA

A igreja de Roma, que antes da criação oficial do Papado considerava-se a eleita de Jesus, ao arvorar-se em detentora das ordenações de Pedro, não perdia ensejos de firmar a sua injustificável primazia junto às suas congêneres de Antioquia, de Alexandria e dos demais grandes centros da época. Herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares, procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela posteridade, modificando as tradições puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada. Os bispos de Roma, abusando do fácil entendimento com as autoridades políticas do Estado, impunham suas inovações arbitrárias, contrariando as sublimes finalidades do ensinamento dAquele que preconizara a humildade e o amor como os grandes caminhos da redenção.
É assim que aparecem novos dogmas, novas modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos nas igrejas, as espetaculosas festas do culto externo, copiados quase todos os costumes da Roma anticristã.

A DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO

A fraqueza e a impenitência dos homens não lhes deixou compreender que o Cristianismo fora chamado à tarefa do governo tão somente para educar o sentimento dos governantes, preparando-os para levar o esclarecimento e a fraternidade aos outros povos da Terra, então considerados bárbaros pela cultura do Império.
Não obstante todos os esforços em contrário, dos mensageiros de Jesus, Bonifácio III cria o Papado em 607, contrapondo-se a todas as disposições de humildade que deveriam reger a vida da Igreja. As forças do mal, aliadas à incúria e vaidade dos homens, haviam obtido um triunfo relativo e transitório.
Os gênios do Espaço, todavia, à claridade soberana da misericórdia do Senhor, reúnem-se no Infinito, adotando providências novas, concernentes ao progresso dos homens.
Todos os recursos haviam sido prodigalizados a Roma, a fim de que as suas expressões políticas e intelectuais se estendessem pelo orbe, abrangendo todas as gentes no mesmo amplexo de amor e de unidade; sua alma coletiva, no entanto, havia deturpado todas as possibilidades sagradas de edificação e renegado todos os grandes ensinamentos. Advertências penosas não lhe faltaram do Alto, como nos acontecimentos inesquecíveis e dolorosos do Vesúvio, nas cidades da Campânia. Séculos de luta e de ensinamento se haviam escoado, sem que a alma do Império se compenetrasse dos seus deveres necessários.
É então que Jesus determina a transformação do Império organizado e poderoso. Suas águias orgulhosas haviam singrado todos os mares, o Mediterrâneo era propriedade sua, todos os povos se lhe curvavam para a homenagem e para a obediência, mas uma força invisível arrancou-lhe todos os diademas, tirou-lhe as energias e lhe reduziu as glórias a um punhado de cinzas.
Até hoje, o espírito que investiga o passado inquire o motivo desses sinistros arrasamentos; mas a verdade é que todos os fundamentos da Terra residem em Jesus-Cristo.

A INVASÃO DOS BÁRBAROS

Essas determinações do Cristo, verificadas após o reinado de Constantino, foram seguidas das primeiras grandes invasões com os visigodos que, fugindo dos hunos, transpõem o Danúbio e estabelecem-se no oriente do Império, penetrando depois na Grécia e na Itália, espalhando flagelos e devastações. Debalde surgem as vitórias de Estilicão, porque, em 410, atingem elas as portas de Roma, que fica entregue ao saque e às mais duras humilhações.
Em 405, é Radagásio que parte à frente de duzentos mil soldados, em demanda da cidade imperial, sendo vencido, porém roubando as mais fortes economias romanas.
As provas expiatórias do Império prosseguem numa avalancha de dores amargas. Aparecem as correntes bárbaras dos alanos, dos vândalos, dos suevos, dos burgúndios. Em 450, os hunos comandados por Átila atacam as Gálias, perseguindo populações pacíficas e indefesas. A unidade imperial perde a sua tradição, para sempre. Com as suas vitórias, funda Clóvis a monarquia dos francos. Os bretões, oprimidos pela invasão e privados do auxílio dos exércitos romanos, apelam para os saxônios que povoavam o sul da Jutlândia, organizando-se posteriormente a Heptarquia Anglo-Saxônia.
O que Roma deveria fazer com a educação e o amparo perseverantes, aqueles povos rudes e fortes vinham reclamar por si mesmos.
A grande cidade dos Césares poderia ter evitado a catástrofe do desmembramento, se levasse a sua cultura a todos os corações, em vez de haver estacionado tantos séculos à mesa farta dos prazeres e das continuadas libações.

RAZÕES DA IDADE MÉDIA 

A queda do Império Romano determinara no mundo extraordinárias modificações. Muitas almas heróicas e valorosas, que se haviam purificado nas lutas depuradoras, não obstante o ambiente pantanoso dos vícios e das paixões desenfreadas, ascenderam definitivamente a planos espirituais mais elevados, apenas voltando às atmosferas do planeta para o cumprimento de enobrecedoras e santificantes missões.
A desorganização geral com os movimentos revolucionários dos outros povos do globo terrestre, que embalde esperam o socorro moral do governo dos imperadores, originara um longo estacionamento nos processos evolutivos. É ai, nessa época de transições que agora atinge as suas culminâncias, que vamos encontrar as razões da Idade Média, ou o período escuro da história da Humanidade. Só esse ascendente místico da civilização pôde explicar o porque das organizações feudais, depois de tão grandes conquistas da mentalidade humana, nos grandes problemas da unidade e da centralização política do mundo. É que um novo ciclo de civilização começava sob a amorosa proteção do Divino Mestre, e as últimas expressões espirituais do grande Império retiravam-se para o silêncio dos santuários e dos retiros espirituais, para chorar na solidão dos conventos, sobre o cadáver da grande civilização que não soubera prover ao seu glorioso destino.

MESTRES DO AMOR E DA VIRTUDE 

Almas sublimadas e corajosas reencarnam, então, sob a égide de Jesus e para a grande tarefa de orientar as forças políticas da igreja romana, agora organizada à maneira das construções efêmeras do mundo. O Papado era a obra do orgulho e da iniquidade; mas o Cristo não desampara os mais infelizes e os mais desgraçados, e foi assim que surgiram, no seio mesmo da Igreja, alguns mestres do amor e da virtude, ensinando o caminho claro da evolução aos povos invasores, trazendo-os ao pensamento cristão e destinando-os aos tempos luminosos do porvir.

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