quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho - No Limiar da Indepêndencia

Pelo Espirito de Humberto de Campos
Psicografia Francisco Cândido Xavier


Novamente em Portugal, D. João VI se deixa levar ao sabor das circunstâncias. 
Lisboa vivia então sob grande terror, devido aos julgamentos sumários que se haviam verificado contra todos os implicados no movimento que visava depor a ditadura de Beresford. Inúmeros fuzilamentos se executaram, sem que as sentenças de morte fossem bafejadas pela sanção régia, constituindo verdadeiros assassínios, com os mais hediondos requintes de crueldade.

O soberano, que trazia constantemente na memória a figura de Luís XVI colada à guilhotina, sujeita-se a todas as imposições dos revolucionários. Jura a Constituição portuguesa, sem o assentimento da Rainha D. Carlota, que é exilada para a Quinta do Ramalhão, onde ficará com o filho D. Miguel, urdindo novos planos inspirados pela sua desmesurada ambição.

Os portugueses influentes consideram o perigo da independência brasileira. A mais preciosa gema que se engastara à coroa da Casa de Bragança estava prestes a desprender-se, para sempre. Todas as providências contrárias à pretensão dos brasileiros são adotadas imediatamente. Um período agitado surge na política da época, entre os polos antagônicos do absolutismo e da democracia. As cortes portuguesas, com 130 deputados, impunham a sua vontade despótica aos 72 deputados brasileiros, que assistiam, com verdadeiro heroísmo, ao desenvolvimento dos projetos de franca hostilidade à direção do príncipe regente do Brasil, que, aos poucos, se ia inflamando ao calor das ideias liberais. Aqueles poucos deputados apresentam um projeto criando na América um congresso independente das câmaras organizadas na Europa, projeto que é recebido pelos portugueses como um insulto à dignidade nacional. Declara um dos parlamentares que D. Pedro deveria abandonar o Paço de São Cristóvão, onde respirava a peçonha da “bajulação dos inimigos do regime”, e voltar a Lisboa, a fim de aprimorar a sua educação em viagens pela Europa. As agitações se intensificam num crescendo espantoso. Alguns deputados brasileiros, como Araújo Lima e Antônio Carlos, agredidos pela população, se veem coagidos a emigrar para a Inglaterra.

A caravana de Ismael desvela-se pelo cultivo das ideias liberais no coração da pátria e, através de processos indiretos, procura espalhar por todos os setores da terra do Cruzeiro as sementes da fraternidade e do amor.

Ê então que a personalidade espiritual daquele que fora o Tiradentes procura o mensageiro de Jesus, solicitando-lhe o conselho esclarecido, quanto à solução do problema da independência:

— Anjo amigo — inquire ele — não será agora o instante decisivo para nossa atuação? Por toda parte há uma exaltação patriótica nos ânimos. As possibilidades estão dispersas, mas poderíamos reunir todas as forças, para o fim de derrubar as últimas muralhas que se opõem à liberdade da Pátria do Evangelho.

— Meu irmão —, pondera Ismael sabiamente — o momento da emancipação brasileira não tardará no horizonte de nossa atividade; todavia, precisamos articular todos os movimentos dentro da ordem construtiva, a fim de que não se percam as finalidades do nosso trabalho. O problema da liberdade é sempre uma questão delicada para todas as criaturas, porque todos os direitos adquiridos se fazem acompanhar de uma série de obrigações que lhes são correlatas. Cumpre considerar que toda elevação requer a plena consciência do dever a cumprir; daí a delicadeza da nossa missão, no sentido de repartir as responsabilidades. Precisamos difundir a educação individual e coletiva, dentro das nossas possibilidades, formando os Espíritos antes das obras. No problema em causa, temos de aproveitar a autoridade de um príncipe do mundo, para levar a efeito a separação das duas pátrias com o mínimo de lutas, sem manchar a nossa bandeira de redenção e de paz com o pungente espetáculo das lutas fratricidas. Cerquemos o coração desse príncipe das claridades fraternas da nossa assistência espiritual. Povoemos as suas noites de sonhos de amor à liberdade, desenvolvendo-lhe no espírito as noções da solidariedade humana. Individualmente considerado, não representa ele o tipo ideal, necessário à realização dos nossos projetos; voluntarioso e doente, não tem, para nós outros, um cérebro receptivo que facilite o nosso trabalho; mas, ele encarna o princípio da autoridade e temos de mobilizar todos os elementos ao nosso alcance, para evitar os desvarios criminosos de uma guerra civil. Trabalhemos mais um pouco, junto ao seu coração irrequieto, procurando, simultaneamente, abrir caminho novo à educação geral. Em breves dias, poderemos concentrar as forças dispersas, para a proclamação da independência e, após semelhante realização, enviaremos nosso apelo ao coração misericordioso de Jesus, implorando das suas bênçãos novo rumo para nossa tarefa, a fim de que a liberdade, bem aproveitada e bem dirigida, não constitua elemento de destruição na pátria dos seus sublimes ensinamentos.

As sábias ponderações de Ismael foram rigorosamente observadas por seus abnegados companheiros de ação espiritual. 

Os emissários invisíveis buscam, piedosamente, distribuir os elementos de paz e de concórdia geral, harmonizando todos os pensamentos para a edificação dos monumentos da liberdade.

As agitações, porém, se avolumam em movimentos espantosos, empolgando a nação inteira. Debalde Portugal procurava reprimir a ideia da independência, que se firmara em todos os corações.

Assim, enquanto os brasileiros discutiam e conspiravam secretamente, a frota do Vice-Almirante Francisco Maximiano de Sousa, sob o comando do Coronel Antônio Joaquim Rosado, com 1.200 homens, partia de Lisboa para o Rio de Janeiro, com ordem terminante de repatriar o Príncipe D. Pedro.

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