sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho - Pombal e os Jesuitas

Pelo Espirito de Humberto de Campos
Psicografia Francisco Cândido Xavier                          


Após o reinado de esbanjamento de D. João V, sobe ao trono de Portugal D. José I, como o quinto rei da dinastia bragantina. O soberano escolhe para seu primeiro ministro a Sebastião José de Carvalho e Melo, depois Conde de Oeiras e, mais tarde, Marquês de Pombal. 

As falanges espirituais, desvelando-se pela evolução portuguesa, haviam escolhido previamente esse homem, para a reconstrução das energias da pátria, após os desvarios de D. João V, o monarca esbanjador e arbitrário, que nunca reuniu as cortes para uma consulta, necessária aos interesses do povo. O escolhido, porém, não soube corresponder integralmente às sagradas expectativas dos gênios espirituais da terra portuguesa. Se construiu, cometeu graves injustiças com a sua ditadura renovadora. 

Pombal ascendera à posição de ministro depois de absorver as ideias novas que percorriam os setores de todas as atividades do Velho Mundo, ao sopro dos enciclopedistas. O campo diplomático já lhe dera a conhecer a técnica política de um Roberto Walpole e, enquanto a sua pátria se algemava aos tribunais da Inquisição, com sérios prejuízos para a educação nacional, o cérebro se lhe povoava de planos audazes e reformadores.

Elevando-se ao trono em 1750, D. José I escolhe-o, imediatamente, para chefe supremo do seu governo e, quando em 1755 foi Lisboa parcialmente destruída por um terremoto, o ministro renovador teve oportunidade de demonstrar a sua capacidade criadora, reedificando a cidade, que renasceu dos seus esforços mais engrandecida e mais bela. 

O Marquês de Pombal, todavia, desde os primórdios de sua ação no governo, não tolerava os jesuítas que, nas cortes europeias, se intrometiam em todos os negócios da política do século, com a pretensão de imunizar o mundo inteiro das correntes de pensamento da Reforma. 

Os missionários humildes da célebre Companhia, radicados no Brasil, diga-se em honra da verdade, estavam muito longe das criminosas disputas em que se empenhavam seus irmãos no outro lado do Atlântico; mas, sofreram com eles a incessante perseguição, tão logo se apossou do governo o famoso ministro.

Surge, afinal, o atentado contra a vida de Dom José I, em 1758. No dia 3 de setembro desse ano, quando regressava de uma entrevista ao Palácio da Ajuda, o soberano foi alvejado a tiros de bacamarte, partidos de um grupo de pessoas desconhecidas. As suspeitas recaíram no Marquês de Távora e seus filhos, no Conde de Atouguia e no Duque de Aveiro. Conquanto fosse este último um dos implicados no movimento regicida, o mesmo não acontecia aos Távoras, inocentes daquele delito. Instaurou-se um processo que terminou, apesar de todas as suas clamorosas irregularidades, com a sentença de morte para todos os implicados. Em vão, procuram os portugueses influentes na corte modificar a decisão do ministro. Os condenados sofrem os mais horrorosos suplícios em Belém e a própria D. Leonor Tomásia, Marquesa de Távora, foi decapitada.

Pombal aproveita o ensejo que se lhe oferece para justificar a expulsão dos jesuítas, apontando-os como autores indiretos do atentado e D. José I, a instâncias do seu valido, assina sem hesitar o decreto de banimento. 

Esse ato de Pombal se reflete largamente na vida do Brasil. Todo o movimento de organização social se devia, na colônia, aos esforços dos dedicados missionários. O clero comum possuía escravos numerosos e chegava a defender o suposto direito dos escravagistas, incentivando a caça aos índios e abençoando a carga misérrima dos navios negreiros. Os jesuítas, porém, sempre trabalharam, no início da organização brasileira, dentro dos mais amplos sentimentos de humanidade. Aldeavam os índios, aprendiam a “língua geral”, a fim de influenciarem mais diretamente no ânimo deles, trazendo as tabas rústicas às comunidades da civilização e foram, talvez, naqueles tempos longínquos, os únicos refletores dos ensinamentos do Alto, advogando o seu verbo inspirado a causa de todos os infelizes. A sua expulsão do Brasil retardou de muito tempo a educação das classes desfavorecidas e, se o ministro de D. José I estendeu algumas vezes o seu dinamismo renovador até a Pátria do Evangelho, sua ação poucas vezes ultrapassou o terreno material, tanto que, mesmo alguns melhoramentos introduzidos no Rio de Janeiro pelo Conde de Bobadela, que levantou aí a primeira oficina tipográfica do país, foram por ele destruídos, à força de decretos que constituíam sérios obstáculos à facilidade de educação no território da colônia.

A esse tempo, observando a anulação dos seus esforços, os missionários humildes da cruz procuraram Ismael com instantes apelos. Seus trabalhos eram abandonados, por força das determinações do ministro arbitrário. Suas intenções ficavam incompreendidas, suas ações baldadas, no sentido de espalharem entre os sofredores as claridades consoladoras do ensino de Jesus. Mas, o generoso mensageiro pondera bondosamente aos seus dedicados colaboradores:

— Irmãos — diz ele — muitas vezes, os próprios Espíritos que escolhemos para determinados labores terrestres não resistem à sedução do dinheiro e da autoridade. Sentem-se traídos em suas próprias forças e se entregam, sem resistência, ao inimigo oculto que lhes envenena o coração. Deixai aos déspotas da Terra a liberdade de agir sob o império da sua prepotência. Por mais que operem dentro das suas possibilidades no plano físico, a vitória pertencerá sempre a Jesus, que é a luminosidade tocante de todos os corações. Temos, porém, de considerar, a par da tirania política que tenta destruir a nossa ação, o lamentável desvio dos nossos irmãos incumbidos de velar pelo patrimônio do Evangelho, no mundo europeu. Infelizmente, não têm eles procurado levar a luz espiritual às almas aflitas e sofredoras, clareando a estrada dos ignorantes e abençoando o rude labor dos simples; ao contrário, buscam influenciar os príncipes do planeta, disputando os mais altos lugares de domínio no banquete dos poderes temporais, em todos os países onde milita a igreja do Ocidente. Peçamos a Jesus pelos tiranos e pelos nossos companheiros desviados da consciência retilínea. Se terminamos, agora, uma etapa da nossa tarefa, em que aproveitamos os elementos que nos oferecia a disciplina da Companhia fundada por Loiola, prosseguiremos o nosso trabalho dentro de novas modalidades. Deixemos aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos, como ensinou o Divino Mestre em suas lições sublimes. Vossos irmãos, transformando a cruz do Cristo num símbolo de opressão e despotismo, nos tribunais malditos da Inquisição, cavam a sepultura moral de suas almas, que se amoldam ao sacrilégio e à ignomínia. Quanto aos políticos, esses têm uma órbita de ação que não lhes é possível ultrapassar; o tempo e a experiência, com a dor, eterna aliada de ambos, ensinarão às suas consciências a lei de fraternidade e de amor, que esqueceram nos dias do fastígio e da glória efêmera sobre a face do mundo. Oremos por eles e que Jesus, na sua bondade infinita, nos acolha os corações sob o manto da sua misericórdia.

Enquanto oravam, gotas suaves de luz se derramavam do céu sobre os caminhos tenebrosos da Terra e a palavra profética de Ismael teve, em breve, a sua confirmação.

A Companhia de Jesus foi suprimida pelo próprio Papa Clemente XIV, em 1773, para reaparecer somente em 1814, com Pio VII. Nunca mais, todavia, puderam os jesuítas readquirir o imenso prestígio que possuíram no Ocidente. Quanto ao Marquês de Pombal, conheceu no silêncio a lição do abandono e do olvido dos homens. No dia em que agonizava D. José I, o cardeal de Lisboa, D. João Cosme da Cunha, que devia ao famoso ministro a altura da sua posição eclesiástica, lhe declara no aposento do moribundo: — "V. Ex.mo já nada mais tem que aqui fazer", testemunhando-lhe venenosa ingratidão. Daí a algum tempo, em subindo ao trono, D. Maria I destituía o marquês de todas as suas funções no reino, banindo-o da corte após rumoroso processo, em que procurou fundamentar a sua condenação. Retirando-se para a Vila de Pombal, desprendeu-se do mundo em 1782, humilhado e esquecido, sob o jugo dos mais pungentes desgostos.

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