quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dramas da Obsessão - A Severidade da Lei - Capítulo IX

Yvonne do Amaral Pereira
Ditado pelo Espirito de Adolfo Bezerra de Menezes

Entrementes, Angelita, silenciosa, percebia que o marido de dia para dia mais e mais a deixara no abandono. Readaptara-se à vida de solteiro e até parecia repugná-la, esquecendo-a sem compaixão pela sua desdita, desinteressando-se do dever moral de suavizar-lhe o martírio com afetuosas atenções. 
Passava dias e noites inteiras sem retornar ao lar. Dir-se-ia agora hóspede em sua própria casa! E, ao voltar, era como se a esposa fosse um ser estranho, para com o qual não se sentia obrigado a considerações. Não se lembrava de que ela possuía também um coração, que esse coração o amava profundamente, e ao qual os deveres de humanidade lhe mandariam respeitar e consolar... preocupado, como se aprazia de permanecer, com as conquistas amorosas que se permitia fora do lar. 

Nem as ocultava tão-pouco à pobre criatura chumbada à invalidez. Parecia até mesmo entender ser perfeitamente natural que Angelita o aprovasse com satisfação e alegria, sem indagar se tal situação deixaria ou não de ferir o coração da jovem esposa, que não cessava de amá-lo. Narrava-lhe, displicente-mente, as conquistas levadas a efeito pelos clubes que frequentava. Dava-lhe a ler as cartas apaixonadas que recebia e retribuia. 

Contava-lhe as ligações amorosas que cultivava. Preparava-se para festas e danças em sua presença, pedindo-lhe a opinião sobre a cor da gravata e do cravo a usar na lapela, consultando-a sobre se levaria lenço de seda branca ou creme, perfumado a heliotrópio ou a jacinto, para apoiar, sob a mão, na cintura das damas com quem dançasse, e se o friso dos bigodes seria mais alto ou mais baixo e a linha dos cabelos ao meio da cabeça ou mais ao lado esquerdo.

Era o egoísmo feroz, do coração frio que apenas em si mesmo pensa, e a quem não causava espécie as desditas do coração alheio!

Dizer das horas de torturas morais que padecia Angelita não será certamente fácil tarefa para a capacidade de um estranho. Seus gemidos, porém, o eco pungente dos seus silenciosos anseios repercutiram no Além como súplicas de socorro, para que o Céu descesse em refrigérios para ela, fortalecendo-a contra a desesperação, na dura experiência. E o céu descia, com efeito, nas individualidades das formosas crianças de Antônio de Pádua, as quais, levando-a a adormecer em letargias profundas, alçavam o seu espírito acabrunhado ao seio dos Espaços. E, ali, quais benditos anjos de um novo Getsêmani, a consolavam com dulcíssimos conselhos e visões de arrebatadoras esperanças, revigorando-a para que sorvesse de boamente o fel das próprias amarguras até ao fim das provações, afirmando-lhe, e dando-lhe a ver dentro de si mesma que tão espinhosa, decepcionante quadro de sua existência mais não era do que a irremediável consequência de um ingrato passado reencarnatório, quando, vivendo em Vila Rica sob o nome de Rosa, amada e respeitada por um esposo digno e confiante, atraiçoava a sua fé conjugal friamente, permitindo-se o ultraje de uma infidelidade aviltante com a pessoa do maior amigo da sua casa, aquele Fernando Guimarães de então, cujo Espírito, agora reencarnado, outro não era senão o seu próprio esposo do momento, isto é, o galante Alípio, cujos maus pendores continuavam ainda os mesmos. 

E explicavam ainda as angelicais crianças de Antônio:
— “Será imprescindível, pois, que te resignes, irmã querida, à melancólica situação terrena da atualidade, porquanto é o único recurso existente em teus caminhos para te reabilitares ante a própria consciência! Volta-te, portanto, para Deus, nosso Pai, o qual bastante poderoso será para conceder-te forças para a vitória contra ti mesma.” 

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