sábado, 15 de agosto de 2015

Dramas da Obsessão - A Severidade da Lei - Capítulo XII

Yvonne do Amaral Pereira
Ditado pelo Espirito de Adolfo Bezerra de Menezes

Entrementes, doze anos se passaram desde que Angelita regressara à Pátria Espiritual. Por esse tempo, eu continuava emprestando o meu concurso de assistente espiritual ao mesmo núcleo de estudos e experimentações espíritas citado no caso precedente. Como vimos, aquele núcleo se destacava pelo alto padrão de dedicação e humildade dos seus componentes em geral e de um grupo de médiuns em particular, cujas excelentes faculdades se prestavam facilmente a qualquer labor necessário à Espiritualidade efetuar relativamente à Terra. Dentre todos, no entanto, eu destacava, para as tarefas mais sutis, que implicassem maior precisão de detalhes e penetração no Além-Túmulo, uma jovem quase adolescente — não por preferências descabidas ou pessoais, mas por se tratar de instrumento cujas faculdades, positivas e maleáveis, se prestavam a qualquer serviço mediúnico, sem sacrifícios mútuos, isto é, sem excessivo esforço dela própria e da entidade comunicante. 

Ora, essa menina, espiritista e médium, cujo nome seria Míriam, pertencia ao círculo de relações sociais terrenas de Sarita, a antiga amiga de nossa personagem Angelita, a despeito da grande diferença de idades existente entre ambas. Por sua vez, Sarita, por motivos pertinentes aos acidentes da jornada planetária, transferira a própria residência para a Capital do país. Certa vez em que a minha Míriam descia as montanhas da terra natal para rever amigos e familiares habitantes na Capital, teve ensejo de também visitar Sarita, e esta, conhecedora de que aquela era adepta da Doutrina dos Espíritos, com atribuições nos campos mediúnicos, disse-lhe, pensativa, servindo-se daquele fraseado gentil e afetuoso que eu de muito conhecera junto à pobre Angelita:

— Minha querida amiguinha! Bem sei que o teu coração, perfumado pelas caritativas fragrâncias do Evangelho do Divino Mestre, não saberia desatender a qualquer alma triste que o procurasse em busca de um alívio para os seus dissabores, ou de uma esperança! Eu sou católica romana, mas, acima de tudo, sou cristã, e, por isso mesmo, aceito as verdades espíritas, porque sei que elas se firmam não somente nas próprias leis da Natureza, como nos ensinamentos do Evangelho do Senhor. Possuí, há muitos anos, uma amiga por nome Angelita, a quem muito amei pelos infortúnios que suportou e por quem muito sofri e chorei, recomendando-a ao amor de Deus e de seus anjos. É morta há doze anos! Tu eras pequenina, contavas apenas oito anos de idade, quando fechei o esquife de Angelita para conduzi-la ao Campo Santo. 

Durante cinco anos, duas vezes ao dia, eu orei sem desfalecimentos, para que a alma de Angelita encontrasse feliz acolhimento na Casa Espiritual de nosso Pai... e há sete anos oro para que ela me apareça em sonhos, ao menos, afirmando-me, pessoalmente, se está realmente “salva”, se é plenamente feliz onde se encontra, se obteve o perdão do Céu para faltas que, possivelmente, tivesse cometido, porquanto, até certo tempo de sua vida, ela se conservou avessa ao respeito a Deus e à crença na existência da alma. Tu, Míriam, que sabes confabular com os fantasmas luminosos do Além, pede a um deles notícias de minha Angelita, e, em sinal de gratidão por esse favor, prometo que, por ti e pelo fantasma que mo conceder, passarei a orar durante outros sete anos, suplicando que as bênçãos do Alto semeiem de rosas o destino de ambos.

As lágrimas turvaram os meigos olhos de Sarita, cujos cabelos, agora já encanecidos, pareciam suave auréola matizando de neblina a sua fronte de madona. A súplica, no entanto, emitida por vibrações muito amorosas e inspirada no respeito às coisas celestes, repercutiu no mundo invisível com as tonalidades santas de uma prece. Despertou minha atenção e registrei o pedido feito ao meu médium. Comuniquei-me com integrantes espirituais da formosa falange de Antônio de Pádua, da qual ela e Angelita seriam pupilas... e acertamos em que o desejo da amável Sarita fosse imediatamente atendido, visto que sobejos testemunhos de humildade, de fé, amor e perseverança ela já apresentara às leis eternas para merecer a dádiva a que aspirava, e a fim de que não viesse a se decepcionar, o seu coração, por um silêncio muito prolongado do mundo invisível. 

Asseverou-me, porém, o Espírito, agora feliz, da própria Angelita, que freqüentemente a boa amiga vinha até ela, em Além-Túmulo, durante o sono corporal; que conversavam ambas e se entendiam perfeitamente. Mas que Sarita, não possuindo faculdades mediúnicas positivas, não conservava possibilidades de deter lembranças para intuições definidas, ao despertar.

No entanto, regressando Míriam à sua residência, na primeira noite de trabalhos, no seu posto de intérprete do mundo invisível, providenciei para que o Espírito de Angelita se aproximasse e a envolvesse em suas vibrações, materializando-se à sua visão mediúnica e ditando, psicográficamente, com acentos vibratórios muito positivos, a fim de transmitir mesmo os característicos da própria caligrafia que tivera em vida planetária, uma carta de amor fraterno, com o noticiário desejado por sua dedicada amiga, que não a esquecera.

Jubilosa e feliz, a inválida de outrora, agora Espírito radioso, escreveu então, pela mão de Míriam, que, passiva, traduzia fielmente o pensamento que lhe era projetado:

— “Minha querida Sarita: Venho, finalmente, agradecer-te a inapreciável dedicação que há vinte e três anos me testemunhas! Abençoem-te Deus e os seus anjos, minha amiga, pelo valor que, aqui, no Além-Túmulo, de onde te escrevo, representou o teu auxílio à pobre enferma, que sofreu e chorou durante onze longos anos, pois a felicidade, que hoje aqui desfruto, em grande parte é a ti que devo, àqueles serões diários que ao pé de mim fazias com tuas edificantes leituras, tuas orações generosas, teus conselhos salutares, que me iniciaram na reeducação necessária, reeducação que, hoje, os amoráveis meninos de “Santo” Antônio de Pádua vêm completando, com o favor do Céu!

Sim, minha querida, estou salva! Estou liberta do peso dos pecados que me amarguravam a consciência! Um dia, quando também habitares onde habito, eu te revelarei esses pecados. Jamais, porém, sofri em Além-Túmulo, senão apenas lamentei a incompreensão e o desvio daqueles que me fizeram sofrer, aos quais, no entanto, sincera e jubilosamente perdoei há muitos anos! Mas... Saibas tu, Sarita, que não foram os onze anos de sofrimentos físicos que me salvaram, mas sim os onze anos de sofrimentos morais que, sobre aquele leito solitário, apenas alegrado pela tua inexcedível boa vontade, eu suportei, contemplando, minuto a minuto, a morte do próprio coração, o despedaçamento das ilusões acalentadas pela juventude, e quando somente a Deus e a ti eu possuía para consolar as minhas lágrimas! Sê feliz como eu sou, Sarita! E recebe minhas bênçãos de amiga agradecida, os ósculos dos meninos de “Santo” Antônio, as bênçãos dos Céus, que nos recomendam amarmos uns aos outros... Tua, de sempre, Angelita.”

Em seguida, o gentil Espírito deixou-se contemplar por Míriam em toda a pujança da felicidade descrita na carta psicografada: docemente aclarado por cintilações azuladas, longa túnica angelical estendendo-se em cauda solene e fosforescente, cabelos louros soltos pelos ombros, um braçado de lírios entre as mãos, meigo anjo a quem somente faltariam asas para recordar as visões que inspiraram o espiritual gênio de Rafael, já expungido de sua consciência, através das lutas do sacrifício das reparações, o feio deslize do século XVIII, em Vila Rica. 

A seu lado, três lindas crianças, pobrezinhas, mas lucilantes, angelicais, pés desnudos, lírios entre as mãos. Míriam pôs-se a chorar diante da visão formosa, exalçando o coração em prece de agradecimento.

No dia seguinte, enviou a mensagem a Sarita, pelo Correio, acompanhada de afetuosa carta onde narrava a visão surpreendente. Ora, do Além estabelecêramos proporcionar a Sarita um testemunho insofismável da imortalidade, um fato concreto que a convencesse e edificasse até ao deslumbramento e à alegria, justo prêmio à longa dedicação demonstrada sob os preceitos da lídima fraternidade.

Por essa razão, na mesma noite em que o fenômeno acima descrito se desenrolava no receptáculo sagrado das operações mediúnicas, no Centro a que Míriam emprestava atividades, repetimo-lo exato, real, à própria Sarita, durante a madrugada, fazendo-a despertar do sono a que se entregava, para extasiá-la ante o aposento iluminado pela presença da amiga e das crianças do varão espiritual Antônio de Pádua, dando-lhe a ouvir a voz tão saudosa da amiga falecida e satisfazendo-lhe, assim, um pedido que, através de humildes e confiantes rogativas, ela suplicava havia sete anos:

— Sim, minha querida Sarita! Estou salva! Estou liberta do peso dos pecados que me amarguravam a consciência! Mas não foram os onze anos de sofrimentos físicos que me permitiram a salvação, mas os onze anos de sofrimentos morais, bem suportados, sobre aquele leito solitário, quando somente a Deus e a ti eu possuía para consolar as minhas lágrimas!

Radiante, felicíssima, louvando a Deus em orações agradecidas, pelo inestimável favor recebido, e atribuindo-o à misericórdia do Pai Celestial e não aos seus méritos pessoais, Sarita, já na manhã seguinte, entrou a presentear as criaturas pobres com muitas dádivas, testemunhando gratidão aos Céus, e escreveu a Míriam narrando o fato. As cartas de ambas se entrecruzaram, pois, pelo caminho.

E Sarita e Míriam foram novamente edificadas, certas de mais uma sublime manifestação do Invisível através do amor, da fraternidade e das doces e imortais alvíssaras do Consolador prometido pelo Nazareno. 

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