terça-feira, 28 de julho de 2015

Dramas da Obsessão - A Severidade da Lei - Capítulo III

Yvonne do Amaral Pereira
Ditado pelo Espirito de Adolfo Bezerra de Menezes


Pelo ano de 1910 seria difícil encontrar-se, numa localidade do interior do Brasil, uma Maternidade, um hospital que acolhesse gestantes na hora crítica do seu sucesso. Mesmo nas capitais dos Estados, e até no Distrito Federal, depararia o médico com as mais dificultosas circunstâncias para a solução dos casos em que se via por vezes envolvido, inclusive a tremenda falta de recursos para o bom êxito das suas atividades profissionais, mormente em se tratando de parturientes, quando seriam urgentes operações melindrosas, arriscadas e graves, para salvar duas vidas, em residências particulares completamente destituídas de ambientação hospitalar, e onde a falta de recursos, às vezes, se iniciava com a escassez de luz que o alumiasse no sagrado mister de operador, para concluir com o preconceito da ignorância, que apenas admitia “simpatias” e chás caseiros onde se fazia indispensável a ação enérgica do cirurgião.

Benditas sejam as mãos que levantam Hospitais e Maternidades para socorro a sofredores desta ou daquela condição social, porquanto a Dor e o Sofrimento nivelam posições sociais, reduzindo todos a pobres necessitados, a quem todo o amor e todas as atenções serão devidos.

Desde a ausência de um auxiliar experimentado, que lhe facilitasse o trabalho tormentoso, até a falta de conveniente esterilização dos instrumentos cirúrgicos necessários; desde a água fervente, indispensável sempre, até o mínimo acidente de momento, o médico de então, a sós com a própria responsabilidade, tudo teria de prover a tempo e a contento. Muitas vezes, tais fossem a pobreza e a ignorância do cliente e seus familiares, teria ele de despender quantias não pequenas para a aquisição do material de que se serviria, ao passo que ele mesmo, tateando na semi-obscuridade de aposentos alumiados a lamparinas de azeite ou de querosene, ou mesmo a velas, proveria, em trempes de fogões primitivos, até as águas necessárias aos seus serviços. E isso o médico faria de bom grado, sem queixas nem revoltas, para que diante de Deus não sentisse abrasar a consciência, maculada pelo descaso no sagrado cumprimento do dever junto a um doente que nele confiava quase tanto como no próprio Criador!

Hoje ainda, como Espírito, sou igualmente solicitado para atender doentes terrenos. E ao contemplar tão belos Hospitais, como a Terra agora os possui, confortáveis e tão iluminados à noite como o são à luz do Sol, e observando a aglomeração de servidores e auxiliares rodeando grandes turmas de médicos e cirurgiões especializados, recordo-me, comovido, dos sacrifícios de outrora e exclamo de mim para comigo: — “Incontestavelmente, ó meu Deus! a sociedade terrena muito avançou na senda do progresso dentro do século XX! 

Pena que, a par de tantos e tão admiráveis triunfos sociais, o homem não se conduza também um pouco mais temente a Deus e submisso às Suas leis, agradecido ante os favores que do Céu há recebido com a possibilidade de tais conquistas para o bem de todos!” — E, em pensamento, beijo as mãos daqueles generosos cooperadores do Bem e do Progresso, que, por abnegação ou interesse, se uniram em colaboração fecunda para erguerem Hospitais e Maternidades que socorram na oportunidade precisa! 

Arquejante, no auge dos padecimentos físicos para o sucesso da maternidade, Angelita, mal cloroformizada, devido à falta de socorros precisos, encontrava-se em perigo de morte.

Não que aquele parto fosse dos mais laboriosos e difíceis, caso anormal ou excepcional dentro da cirurgia ginecológica da época. Mas, a falta de um cirurgião, ou médico ginecologista, no momento preciso, para conjurar possíveis surpresas, causara a anormalidade e o desastre, os quais bem podiam ter sido evitados se desde o início da gestação uma assistência médica eficiente fosse mantida.

Há cinquenta anos, o preconceito individual, o pudor excessivo e mal interpretado, acompanhando a escassez de recursos e a inobservância higiênica do paciente, dificultariam igualmente a ação do clínico ou do cirurgião, cujos serviços, geralmente, apenas eram solicitados para uma parturiente à última hora, quando já se evidenciava o desastre, e quando já mais nada, ou quase nada, seria possível tentar para conjurar os graves acidentes sempre possíveis. 

Seria desdouro social para uma gestante, recém-casada ou não, o fato de se transportar do seio da família para um Hospital ou uma Maternidade, no caso de existir uma ou outra dessas instituições na localidade habitada. Preferiam-se, assim sendo, o concurso de curiosas, certamente experientes e hábeis para os casos normais e fáceis, mas absolutamente ineptas mesmo para reconhecerem o perigo e reclamarem o médico a tempo, nos casos graves. Daí, outrora, a calamitosa mortandade de parturientes, problema cujos reflexos atingiram as preocupações de Além-Túmulo, pois nem sempre existiria a expiação ou o resgate em casos tais, e que os rigores do Código Penal terreno removeram com a exigência de certificados de habilitações para as assistentes comuns do caso e que os Hospitais remediaram em grande parte, tratando de humanitárias internações e assistência constante às próprias gestantes.

O caso de Angelita, porém, era desses que, examinado de início, seria reconhecido como dos passíveis da intervenção denominada “cesariana”. Tratava-se de uma organização genital frágil, incapaz, a qual requereria de um médico atenções especiais para uma decisão não cercada de anormalidades.

Em chegando à câmara onde o drama cirúrgico se desenrolava, percebi, enternecido, que meu pobre colega terreno envidava todos os esforços para levar a bom termo o seu dever, desdobrando-se em habilidades para salvar a jovem mãe, já que não mais seria possível operá-la de molde a salvar também o nascituro, cuja morte intra-uterina se verificara com a aspereza da operação. A situação geral era desesperadora. A intervenção acerba, não mais podendo ser a “cesariana”, em vista da indecisão em se reclamar a presença do médico, somente fora realizável com o despedaçamento do entezinho, que houvera de sofrer trepanação e esmagamento do crânio, esquartejamento, etc., em impressionantes condições. 

Uma faixa luminosa, porém, cintilante quais raios de eflúvios celestes, incidia sobre a cena trágica, provinda do Alto. E vultos angelicais, não apenas integrantes da falange de Antônio de Pádua, mas obreiros comuns e permanentes da Beneficência, destacados para a cabeceira de enfermos, pois as leis da Criação provêem sabiamente as necessidades gerais do Universo, não esperando súplicas humanas para atendê-las, mas aceitando-as grata-mente, como veículos para o seu acréscimo de misericórdia, permaneciam ali vigilantes, dispostos a uma sagrada assistência.

Compreendi, não obstante, que ameaçava Angelita aniquiladora hemorragia interna, a que lhe não seria possível resistir fisicamente. Os obreiros invisíveis presentes haviam sustido a ameaça até ali. Contudo, medidas mais enérgicas seriam devidas ainda. E compreendi também, mau grado meu, que dos três longos dias de espera, na indecisão da procura de um médico para a intervenção urgente que se fizera necessária, resultara para a jovem mãe o despedaçamento de tecidos em órgãos internos mui melindrosos, tais como a “bexiga”, ou óvulo urinário, os canais renais, etc., enquanto que músculos e tendões, dolorosamente comprimidos durante a gestação penosa, a inércia do nascituro e a violência da operação, ameaçavam inutilizá-la para sempre! Intervim então, valendo-me dos recursos psíquicos aplicáveis no caso, servindo-me, na medicina astral, de fluidos e essências, raios, gazes e energias cuja aplicação nos tecidos orgânicos da criatura encarnada serão sempre passíveis de resultados excelentes. 

E conjurei, assim, o perigo da hemorragia, anulando a possibilidade de um desenlace que se deveria realizar, em verdade, muito mais tarde. Reanimei ainda os fluidos vitais, ou nervosos, da paciente, enxertei-lhe porções adequadas de “plasma” extraídas da boa vontade da fiel Sarita, que prosseguia em orações, e infiltrei-lhe valores magnéticos tonificantes do coração, do cérebro e da circulação venosa, com atuações ativantes do sistema nervoso, fazendo-os mansa e sutilmente penetrar pelos poros da enferma, qual se milhões de celestes agulhas portadoras da essência de Vida lhe pudessem ser introduzidas nos orifícios da pele a fim de atingirem os locais necessários.

O médico, ou o Espírito desencarnado, já cônscios de deveres e responsabilidades, se o desejarem, verão o corpo humano destituído até mesmo da sua armadura de carnes e músculos, contemplando de preferência as vísceras, a rede de nervos ou as artérias, a circulação do sangue, os ossos, tudo ou aquilo que seja mister examinar. Para ele, a pele que recobre o corpo humano não existirá, ou também será um rendilhado tênue qual o tecido denominado “filó”, e os poros então serão visíveis quais orifícios de um favo de mel. Daí a facilidade da minha intervenção psíquica, tonificando os órgãos da paciente com os produtos medicinais do laboratório do plano astral, enquanto o cirurgião terreno concluía a sua terrível tarefa, depondo em vasilhame caseiro os despojos sanguinolentos do infeliz produto que seria o primogênito do casal... se em todo esse drama acerbo não se distendessem os ecos expiatórios do efeito de remota causa existente no pretérito e ambos os esposos e também do nascituro...

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