quarta-feira, 29 de julho de 2015

Dramas da Obsessão - A Severidade da Lei - Capítulo V

Yvonne do Amaral Pereira
Ditado pelo Espirito de Adolfo Bezerra de Menezes




Não chegara eu ainda ao meu destino, porém, e um encantador “acaso”, desses criados pelas afinidades pessoais, que se buscam naturalmente, para um espiritual consórcio de valores psíquicos, fez-me defrontar com duas gentis individualidades da falange enternecedora de Antônio de Pádua.

Perdoar-me-á o leitor, no entanto, a necessidade em que me vejo de materializar os acontecimentos decorridos no mundo espiritual e as expressões ali usadas. Escrevo para vós, terrenos, com um cérebro mediúnico. E para oferecer o ensinamento a contento de humanas compreensões não poderia a estas dirigir-me de outra forma.

— Íamos buscar-vos, doutor... Desejávamos aqui a vossa presença, diante da pobre enferma, cujo Espírito se encontra entre nós... — declararam-me gentilmente as duas formosas entidades. Deram-me confiantemente as mãozinhas, que se diriam delineadas em raios estelares, e seguimos para mais além... Bem depressa me defrontei com o espírito de Angelita, cujo corpo, no momento imerso em estado comatoso, que a anestesia aprofundava, permitia àquele a permanência lúcida em regiões do Invisível, propícias à sua recuperação geral.

Debulhada em prantos, a pobre jovem parecia inconsolável, ao passo que a seu lado entidades amigas confortavam-na, aconselhando-a paternalmente. Uma dentre todas, grave e protetora, dirigiu-se à minha modesta individualidade, benevolente e amável:

— Agradeço-vos, caro irmão — falou-me —, o eficiente trabalho adaptado ao corpo terreno de minha pupila Angelita... o que importa dizer que, tal como se encontra, estará ela apta ao testemunho indispensável às leis eternas, para o qual preferiu renascer.

Respondi escusando-me, aturdido ante as expressões amigas de um superior espiritual, emitindo votos mui sinceros para que a paciente se saísse a contento das provações encetadas.

Eu observara, porém, no aposento da doente, durante a operação, uma individualidade de aspecto singular, e me abandonara, então, a contemplá-la, chegando a descobrir sua identidade, mais ou menos, através de intuições seguras.

Tratava-se de forma perispiritual escura, sombria, de cabelos eriçados, traindo o complexo da “carapinha” do negro, cujas feições acusavam terror, apresentando, por vezes, esgares de dor, estremecendo convulsivamente, como desejando desvencilhar-se de algo que o torturasse. 

Postava-se, então, próximo a Angelita, como que a ela ligado por atilhos magnéticos que pouco a pouco se rompiam... Seu aspecto era o típico padrão dos escravos africanos vindos para o Brasil em tristes épocas do lamentável tráfego, e, quando encarnado, no pretérito, seria homem certamente assaz primitivo, acusando possibilidades assustadoras para a prática de abominações. Distinguindo minha preocupação ao recordar o fato, no momento, novamente se expressou a entidade protetora de Angelita:

—Observo a vossa estranheza, preclaro irmão, ante a imagem do acompanhante invisível da minha pupila, sobre a Terra, e não será para mim nenhum desdouro colocar-vos a par dos acontecimentos achegados a esse infeliz delinqüente e nossa pobre enferma.

Excusei-me novamente, declarando-me respeitador dos dramas alheios, que não deveria devassar, mas a entidade amiga prosseguiu:

—Honro-me no trabalho de vos dar a conhecer o drama de Angelita... Ao demais, não ignoro que apreciais as Belas-Letras, aprazendo-vos, mesmo, praticá-las desde longa data... Um dia, quem sabe?... quando vos aprouver, podereis contá lo aos vossos amigos terrenos, porquanto será lição expressiva para o leitor atento, ao passo que encerrará revelação interessante para o pesquisador dos destinos da alma humana, como da severidade e justiça das leis eternas...

Deteve-se um instante, em gracioso gesto meditativo, e continuou:

—Sim! O drama, cuja segunda parte acabamos de assistir, teve origem nos dias depressivos do Brasil-Colônia... Oh, meu irmão! Quase que de um modo geral, julgam os brasileiros que seus espíritos provêm de encarnações havidas em países europeus civilizados e aristocráticos tão somente, quando a verdade é que grande parte provém dos dias da colonização afro-portuguesa dali mesmo, do Brasil primitivo e infeliz de antanho...

Certamente que emigraram, para a Terra de Sarita Cruz, falanges de indianos, de gregos, de franceses, de espanhois, de orientais, que nesse país reencarnam na esperança de se furtarem aos velhos ambientes onde delinqüiram vezes seguidas e cujas paisagens aviventariam em suas consciências as acusações mórbidas do Passado, as quais nas próprias sutilezas mentais agiriam como intuições angustiosas... Todavia, será prudente não perder de vista que o Brasil, da sua descoberta à alvorada da abolição da escravatura africana, que em seu seio medrou profusamente, tripudiou sobre os deveres do cristão, escravizando em condições acerbas homens inofensivos e fáceis de se conduzirem para Deus, porque, na sua maioria, não eram mentalidades primitivas e sim reencarnações de povos ilustres, mas criminosos, que buscavam redenção sob a humilhação da cor negra, humilde e cativa, arrependidos e desejosos do progresso, e cujos sofrimentos e lágrimas ecoam ainda nas ondas do éter adjacente do país como estigma infamante, caindo então o seu desarmonioso efeito em ricochetes especiosos sobre os culpados de ontem, através do feito reencarnatorio...

—Assim é, meu excelente irmão... As leis eternas, estabelecidas pelo Senhor Supremo para a regência da Sua Criação, jamais serão impunemente desacatadas: as sociedades brasileiras de hoje sofrem consequências inevitáveis dos feitos ímpios anteriores à lei de 13 de Maio de 1888... Aliás, a sabedoria dos Evangelhos adverte, quando declara que a cada homem será concedido de acordo com os próprios atos praticados... —aquiesci eu, interessado já no palpitante assunto.

E o amigo então continuou, expondo-me o seguinte:

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