terça-feira, 7 de julho de 2015

Dramas da Obsessão - Conclusão-Terceira Parte-Capítulo II

Yvonne do Amaral Pereira
Ditado pelo Espirito de Adolfo Bezerra de Menezes


De posse de tão preciosas informações, estabeleci o único programa lícito perante as leis da Fraternidade: — tentar a reeducação dos litigantes à base da cristianização das suas individualidades espirituais, muito embora estivesse certo de que o aprendizado que se seguiria apresentar-se-ia longo e espinhoso, através de uma ou mais reencarnações. 
Seria tarefa árdua para nós outros, que os deveríamos aconselhar e instruir, auxiliando-os no reajustamento indispensável, mas seria necessário, imprescindível que assim fosse, e tanto eu como meus dedicados companheiros de trabalho estávamos dispostos a tentar o certame, uma vez que outro não seria o nosso dever de cooperadores do Grande Mestre Nazareno. Aliás, cumpre ao obreiro tão somente a realização dos serviços confiados à sua competência, sem discutir se serão os mesmos penosos, difíceis ou de fácil execução. 
Na noite seguinte à nossa entrevista com a entidade espiritual orientadora das duas falanges em apreço, realizou-se a reunião dos médiuns de minha confiança, por mim solicitada, e eu e mais alguns obreiros ligados à agremiação terrena, patrocinadora do feito, levamos ao fenômeno da incorporação o antigo Rabino e seus filhos. Em verdade ser-nos-ia dispensável aquela reunião. Resolveríamos, sim, o lamentável drama espiritual, dispensando o concurso humano. 
Mas três fatores existiam, poderosos, que nos animavam ao feito: — ensinamento e aprendizado para os próprios homens, que urgentemente necessitam conhecer os grandes dramas da Humanidade distendidos para o Além-Túmulo; ensejo de progresso para os médiuns e cooperadores terrestres nos setores da Fraternidade, que assim se habilitariam à prática de inestimável feição da Beneficência, e mais facilidade para a conversão dos endurecidos Espíritos diante do fenômeno mediúnico-espírita, cujo aspecto impressionante é de grande importância para um desencarnado. Os debates com o 

Presidente da mesa eram vivos, eloquentes e acres por parte de Timóteo e de Joel, e menos resolutos por parte dos jovens Saulo e Rubem, que se diriam apenas o eco das ações do pai e do irmão, como que obsidiados os seus Espíritos pela ação constante de duas vontades mais poderosas; ponderados, profundos e não menos vivos e eloquentes por parte do Presidente, que trazia a seu favor, a par de outros fatores, quatro séculos de progressos gerais e ainda a lógica irrefragável e vigorosa fornecida pela Doutrina Espírita. E seria belo vê-los e ouvi-los! ... 

Confesso que sorri de sincero júbilo contemplando os meus disciplinados pupilos empenhados em tão formosa peleja transcendental, a benefício do próximo! E, o coração se me dilatando em fervoroso desejo da vitória do Amor, acionei intuições ao Presidente dos trabalhos, auxiliando-o quanto possível no generoso empreendimento. Ele e Timóteo dir-se-iam, então, o quadro vivo de duas épocas que se empenhavam em lutas: — para resistir ao tempo, uma, que era sombria e cheia de amarguras, recordando um pretérito de opressões, para implantar as luzes do conhecimento e da esperança, convidando a criatura à liberdade através da Verdade; a outra, que trazia o futuro por fanal sob as alegrias do Consolador! Ambos cultos, conhecedores do terreno filosófico que representavam, os seus discursos lembrariam a oratória das Academias gregas, onde os mais belos temas filosóficos eram levantados para debates que honrariam oradores e ouvintes. 

E duas horas de argumentações se escoaram, durante as quais a inusitada tragédia de Lisboa foi citada e revivida através do verbo queixoso e magoado dos antigos judeus, com toda a patética amargura da sua realização, esgotando os médiuns, que se viram obrigados a elevar do olvido uma época já desaparecida nas dobras do tempo e os seus problemas, sob injunções irresistíveis de um formoso, mas penoso fenômeno, tornado torturante pelo choque dos fluidos contundentes que seu ódio e suas dores emitiam! 
Mas, subitamente, surgiu Ester em plena reunião, tornando-se visível aos comunicantes e videntes. Ester, a virgem sacrificada que, depois de quatro séculos de ausência, retorna aos seus, mais formosa sob a estruturação espiritual do que jamais o fora na terrena, coroada de rosas agora, recordando as flores preferidas na mansão judaica, um jacto de luz azul a irradiar ondulações sublimes ao redor de toda a sua configuração espiritual, evocando a imagem das virgens que sucumbiram, não mais nos circos de Roma, para o suplício à frente dos leões, mas em novas arenas onde as feras seriam antes hienas humanas envoltas em sotainas e capuzes negros clericais, os homens do chamado “Santo Ofício”, de abominável memória! Tomadas de um deslumbramento que tocava as raias do pavor, as quatro individualidades endurecidas se detiveram nos enunciados de revolta. Quedaram-se respeitosas, concentradas na felicidade inapreciável de revê-la e de ouvi-la, pois, dizia-lhes, murmurando docemente, como numa cavatina angelical: — “Sim, meus amados de outrora, meus amados de hoje e de sempre! 
Eis-me novamente convosco, para nunca mais nos separarmos! Mas, para que tão grandiosa ventura se concretize, necessário será que eu vos recorde um sagrado dispositivo da lei da nossa raça... A lei suprema, fornecida por Javé, o Deus de Israel (27), ao maior profeta dos hebreus, nas sagradas escarpas do Sinai, estatui, como principal dever dos filhos de Abraão, este mandamento, que encerra todos os demais que os homens e os Espíritos deverão observar para serem agradáveis ao Criador: — 

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com todas as tuas forças, com todo o teu entendimento, e o próximo como a ti mesmo”... — e não o ódio secular que vindes alimentando em vossas almas para desgraça vossa e impossibilidade de nossa própria felicidade... Se os vossos inimigos do passado faliram no cumprimento desse dever, deixando de observar o dispositivo supremo do Código Divino, e, assim, ofendendo-vos profundamente, também infringistes o mesmo sagrado dispositivo, odiando e revidando ofensas... Quatro séculos são passados, meus amados, desde a noite terrível de nossa prisão em Lisboa... Dom João III outrora cruel e desumano, encontra-se agora em franco ressurgir para a redenção do seu Espírito, através de operosidades generosas e heroicas em torno de povos e falanges sociais, pois, à frente da lei suprema, aquele que muito errou muito deve construir de aproveitável e excelente, para expungir, com o inverso do que praticou outrora, as sombras que lhe aviltam a consciência... 
E ele o tem feito através das reencarnações, pelas vias da abnegação e do sacrifício, inspirado num arrependimento construtivo! Depois de horas desesperadoras dos mais negros remorsos, em que também conheceu o amargor das lágrimas derramadas por aqueles a quem perseguiu através das leis que criou, sofreu ele próprio, com agravantes terríveis, o rigor das mesmas leis, em encarnação obscura e humilde, que posteriormente tomou em Portugal mesmo, nascendo em círculo familiar da própria raça que ele tanto perseguiu, para provar o desacerto das leis e instituições por ele próprio criadas! 
E durante todo esse tempo, enquanto o tirano arrependido do mal praticado tratava de se erguer para novos ciclos de progresso, vós, que éreis honestos e bons, mas não possuíeis boa vontade para perdoar e esquecer as ofensas recebidas, permanecestes estacionários no ódio, cristalizados na prática das vinganças, e tanto odiastes e tanto feristes, revidando ofensas... que auxiliastes o progresso e a emenda dos vossos próprios inimigos de outrora, os quais, hoje, já se encontram em melhores condições morais perante a lei suprema do que vós outros... pois o certo é que eles não mais odeiam a quem quer que seja e que um grande e sincero arrependimento, do passado mal, os predispõe a futuro honroso e reparador... 
É tempo, pois, de perdoar para serenar o coração e tratar de progredir... É tempo de amar a Deus nas pessoas dos vossos irmãos de Humanidade e não apenas aos compatriotas e correligionários da mesma fé religiosa... Vinde comigo... e eu vos exporei, em serões tão doces como aqueles de outrora, sob a amenidade das oliveiras do nosso solar querido, não mais as leis rigorosas de Israel, que nos eram relembradas pelos velhos códigos hebreus, mas as suaves leis do amor e da fraternidade estatuídas por aquele grande “Rabboni” que me agasalhou e enalteceu em vossa ausência.. Impressionados e temerosos, nada responderam, mas seguiram com ela. Exaustos, os meus médiuns não mais resistiriam. Despertei-os. Refeitas foram as suas energias por nós. Mas a reunião no mesmo Centro prolongou-se ainda, conquanto subordinada, agora, aos planos exclusivamente invisíveis. 

27) Javé (Jeová) — Espírito Superior protetor da raça hebraica, que concedeu ao médium psicógrafo Moisés, em nome de Deus, o Decálogo, ou Os Dez Mandamentos da Lei de Deus, fenômeno Idêntico aos que se processam hoje entre os médiuns espíritas. Outro Espírito, da mesma categoria espiritual de Javé, revelava-se também protetor dos hebreus — Eloim, citado com o primeiro, várias vezes, no Velho Testamento. Os antigos povos de Israel atribuíam tais manifestações ao próprio Deus. 

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